Aqui você vai encontrar algumas experiências sobre a vida, sobre a relação entre homem e mulher e discussões sobre esta relação.

terça-feira, dezembro 18, 2007

Carta para a Psicóloga


Oi Heleninha,

Minha viagem a Barcelona foi uma epopéia... e aconteceu de tudo um monte comigo.

Te conto agora para economizar uma seção de terapia.

Recebi meu cartão de crédito corporativo na sexta-feira antes de viajar, e claro que não funcionou ! tinha algum erro no cadastro, mas claro que eu posso financiar a Telefônica, sem problemas...

No sábado dia 6 meu vôo estava programado para as 19hs e por isso eu deveria chegar no aeroporto às 17hs.

De alguma forma, perdi a noção do tempo e cheguei ao aeroporto 18:10hs (!!!)

Mesmo assim, consegui fazer o check-in e embarcar no horário: 18:50 eu estava dentro do avião (!!!!!!!)

Bem, aí depois de quase uma hora parados, lá pelas 20hs (1h de atraso), todos dentro do avião, ar condicionado no mínimo (depois soubemos que era devido às turbinas estarem desligadas) já não continha o calor e o povo (depois de duas rodadas de água) já estava perdendo o bom humor.

Como estava um certo zum-zum-zum no fundão, perguntei a um comissário de bordo o que estava acontecendo já que havia passado um cara da manutenção da TAM pelo avião.

Calmamente (ainda) ele me disse que um passageiro estava com a poltrona defeituosa e ele se recusava a trocar de assento a menos que fosse para ir à 1ª classe ou para a classe executiva.

Ao saberem disso vários passageiros se ofereceram para trocar de assento com ele, para que a aeronave pudesse (finalmente) sair.

O cidadão, que passarei a partir deste ponto a tratar por “escroto”, continuou irredutível e os ânimos à bordo esquentaram assim como a temperatura ambiente, e resolveram chamar a polícia federal.

Antes que a polícia chegasse, começou a seqüência clássica de crianças chorando, mulheres passando mal até que o negão comissário de bordo foi macho e falou com o comandante pelo interfone avisando que a situação no fundão estava insustentável e que iria abrir as portas para ventilar o lugar.

Neste ponto, já eram mais ou menos umas 21 hs (2 horas de atraso) e finalmente uma grávida (sempre tem uma à bordo nestas horas) começou a passar mal e taca chamar os médicos e aguardar o atendimento.

Lá pelas 22hs (3 horas de atraso) finalmente os médicos foram embora e a manutenção conseguiu acertar a poltrona quebrada do escroto.

Bem, começamos a nos mover em direção à pista, ar condicionado funcionando fraquinho mas já dava conta da parada.

Quando as turbinas (finalmente) foram acionadas, tudo ficou escuro na cabine.

Zum-zum pra cá e pra lá, e o comandante anuncia que houve uma falha em um dos geradores do avião e que deveríamos voltar para o “box” para dar manutenção.

Repete a seqüência: Calor do cacete, crianças voltam a chorar, passageiros gritando “abre a porra desta porta de uma vez” e ligando para o 190 e ficando desesperado por que a PM disse que não poderia fazer nada que deveria ser assunto da polícia federal, blabalabal...

Como estavam mexendo nas turbinas, ligando e desligando, não dava para abrir as portas desta vez e daí veio o insólito: Uma velhinha (mesmo, daquelas de cabelo branquinho) brandia uma bengalinha e gritava “vamos quebrar tudo” (!!!!!!!!!) assim deixam a gente sair daqui (!!!!!!!!!!)

Às 23hs (4 horas de atraso) desembarcamos todos para aguardar uma posição da TAM, aproveitei e fui ao freeshop dar uma espairecida e curtir um ar condicionado.

Comprei um fone de ouvido novo para curtir um som melhorzinho na minha agenda eletrônica e voltei ao portão de embarque. Assim que constatei que o fone que eu comprei era uma bosta, a aeromoça avisou: O avião não poderá ser reparado e a nova aeronave vai sair às 2hs da manhã (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!)

Voltei ao freeshop para trocar a bosta do fone de ouvido e (como era de esperar nestas horas) o balconista disse que não poderia trocar por eu já ter aberto a embalagem...

Às 00Hs do domingo (5 horas de atraso) joguei todos os meus quase 2 anos de terapia no lixo e descontei estas 5 horas de frustração no balconista chefe (uma loirinha linda, quase indefesa, olhinhos verdes quase 1 metro mais alta que eu e aparelho nos dentes).

No final, convenci ela que trocasse o aparelho por outro mais caro, paguei US$10 pela diferença e saí pisando duro e bufando pelo corredor.

Fui ao balcão da TAM bem na hora que uma moreninha que não havia vivido nada desta história toda anunciou que os passageiros que desejassem desistir do vôo deveriam desembarcar (ué, eu já não estava desembarcado???) solicitar a bagagem, passar pela alfândega, ir ao balcão de vendas da TAM e remarcar a viagem.

Neste ponto, mandei esta viagem às favas e estiquei meu braço em direção ao balcão para pedir que minha bagagem fosse enviada à esteira porque eu iria desistir do vôo.

Quando levantei o braço, quem estava bem embaixo do meu punho ???? Ele mesmo !!! o Escroto em carne, ossos e ignorância !!!

E ainda botando banca que “agora não tem ninguém xingando né? Por que não brigam com a TAM agora ???”

Se ele soubesse o quanto esteve a ponto de ter o crânio afundado pela minha agenda eletrônica Palm que esteve a ponto de ser fincada em sua cabeça não teria dito estas palavras.

Saí dali e fui à área de desembarque esperar pela minha bagagem. Tic-tac 0:15hs... Tic-tac 0:30hs... Tic-tac 0:45hs... Tic-tac puta que pariu 1:00hs e nada da minha mala...

Vi um funcionário solitário da TAM, quase um bebê, carregador de malas Jr (só podia, para estar trabalhando naquele horário de um domingo) e expressei a ele meu sofrimento, buscando alguma palavra de alento.

Eu deveria realmente estar com uma cara de dor, por que ele olhou pra mim e disse “se o senhor vai viajar novamente amanhã, deixa esta bagagem aqui sob guarda da TAM e vai dormir que o senhor deve estar precisando” com aquela voz doce que só os inocentes têm.

Bem, botei os novos fones de ouvido (muito bons por sinal) aumentei o volume e fui embora passando pela policia federal como se não houvesse ninguém por ali, e curiosamente antes que tomasse um tiro nas costas me deu uma luz de voltar na direção do policial que por sinal já vinha em minha direção com a mão no coldre.

Lhe pedi desculpas antes de mais nada, mostrei-lhe o passaporte e cartão de embarque do vôo que não aconteceu e quando mencionei “Paris” ele deu uma risadinha e disse “ah, o senhor estava naquele vôo? Então pode ir e bom descanso e boa sorte!”.

Tic-tac 1:30hs... Balcão da TAM. Remarquei a viagem em quase 5 minutos com a ajuda de uma funcionária muito solícita e cheia de desculpas.

Tic-tac 2:00hs... Entro em casa e como durante estas 7hs fui ligando de tempos em tempos para descrever o martírio e buscar alguma solidariedade autêntica, todos já estavam dormindo.

Tic-tac 3:00hs... Depois de tomar um banho contar toda esta história para uma Arlete que de dormindo passou a atônita ao ouvir o caso fui tentar dormir, sabendo que em algumas horas iria começar tudo de novo.

Avança a fita para as 17hs do domingo. Fiz o check-in novamente e expliquei 5 vezes a 5 funcionários diferentes da TAM o que havia acontecido com a minha bagagem e que precisava localizá-la para poder viajar. Finalmente o 5º, certamente uma alma iluminada, me disse que votasse ao balcão do check-in (onde comecei às 17hs) e pedisse para falar com um líder sem dizer mais nada, apenas isso.

Foi como um “abre-te cézamo” !!! o 6º funcionário me indicou que passasse na frente de todos as pessoas da fila e fosse diretamente à posição X onde estaria o líder.

Tic-tac 18:00hs... Expliquei ao Líder uma única vez o que havia passado e ele me disse que procurasse um lugar para sentar-me que o processo demoraria uns 15 minutos. Entre incrédulo e descrente lhe disse que deveria embarcar às 18:30hs e tinha esperança em viajar desta vez.

Tic-tac 18:15hs... Volto à posição do Líder e ele sorrindo me diz que já havia me procurado e me pergunta se a bagagem a seus pés era a minha. E era mesmo a minha !!!

Corta o filme, por simplicidade digo que o vôo saiu sem problemas técnicos, porém devido ao tráfego aéreo o Infraero segurou o vôo mais uma hora em solo.

Resultado: Cheguei a Paris 1 hora antes de sair o vôo da minha conexão a Barcelona. Cheguei ao portão da Air France 5 minutos antes da hora marcada para a saída do Vôo, que alias não estava no portão marcado no bilhete, nem constava no quadro de avisos e nem meu Francês era suficiente para me explicar e nem ao meu desespero.

Como o caos aéreo é um fenômeno mundial, o vôo a Barcelona mudou de portão por estar atrasado (huhauahuahauahua) e 40 minutos depois que eu cheguei no portão correto o avião finalmente saiu.

Claro que deu problema no meu cartão de embarque emitido pela TAM no Brasil, que não era reconhecido pela máquina da Air France, mas que são 5 minutos de tentativas para quem passou o que eu já havia passado ?

Cheguei a Barcelona às 16hs (hora local), e cadê minha bagagem ? Lógico que ficou em Paris !!!

Às 17hs a papelada já estava feita no escritório da Air France e taca ligar pro chefe novo, falar com a secretária dele, ir hotel largar as revistas, livros e outros pesos mortos que eu estava carregando, ir para o escritório, pegar o bilhete eletrônico para viajar a Madrid, passar no shopping e comprar terno, camisa, meias, sapatos, cueca, gravata, achar uma costureira para fazer a barra da calça nova, comer algo enquanto ela fazia o ajuste e voltar direto para o aeroporto.

Em Madrid, é lógico que o taxista “errou” o hotel para onde eu me dirigia (Novotel Madrid Puente de la Paz) por um outro (Nuevo Hotel Madrid) e às 23:50hs eu finalmente fiz o check-in no hotel e pude tomar um banho.

Neste tempo todo, por mais que cada vez que eu sentasse desse uma piscadela, assim que tomei banho eu despertei, afinal eram 0:30 minutos em Madrid mas em São Paulo ainda eram 19:30hs.

Mas passado tudo isso, e as reuniões do dia, às 21hs eu estava de volta a Barcelona para um banho, jantar e dormir.

Ah, e a minha bagagem ?

A Air France entregou direitinho no hotel de Barcelona!

Beijos.

Alf.

P.S. Tudo isso aconteceu entre os dias 6 e 9 de outubro de 2007. Nas semana passada (2 meses depois, portanto) recebi um cheque da Air France com o reembolso de parte das minhas despesas com roupas.

Fazendo as contas, parece que não gostaram dos preços da cueca e do sapato que eu comprei...


sexta-feira, dezembro 14, 2007

Sobre a importância e a desimportância


O abismo está alem da janela ?
Já briguei muito.
Já me exaltei.
Já fiz discursos longos sobre como "as coisas" são injustas, "as pessoas" incompetentes ou ignorantes, sobre como "eu" sou incompreendido.
Ja me senti como um ponto fora da curva, um pária, um abençoado por ser mais simples parecer ignorante do que ser inteligente.
Doze anos atrás tive uma lição de humildade, já não me sentia mais pertencente ao topo da escala evolucionária.
Seis anos atrás consegui me sentir novamente mais que um igual entre meus pares. Me descobri novamente um ponto de referência.
Quatro anos atrás, novamente o darwinismo me obrigou a evoluir e enfrentar a mudança.
Mudança de ares, mudança de pares, mudança de idioma e, novamente, brigar e exaltar e xingar e praguejar.
E também a sentir-me por vezes um inútil. Tanto esforço em vão...
Tanta adrenalina em vão... Tanta energia tentando iluminar o que me era óbvio para que "os outros" pudessem encherga-lo também.
Até que algo aconteceu, e eu nem sei se mudaram as coisas ou mudei eu novamente.
Me dei conta novamente que sabia ou conhecia os atalhos do caminho.
Que parte da história que muitos ao meu lado viviam havia sido concebida ou escrita ou influenciada de alguma forma por mim.
E a inspiração me veio ao descobrir que eu era o senhor das respostas.
Tinha todas as respostas para todas as perguntas, e opinião a dar sobre todos os assuntos.
Até colhi algumas pérolas:
-Vá para a negociação sempre preparado para a briga e provavelmente não brigará.
-Mesmo estando preparado para a briga, não dê o primeiro soco. Mas esteja pronto para dar o último.
E mesmo assim, lá vem novamente a constatação de que saber todas as respostas não me garante resolver meus próprios problemas.
Saber avaliar as alternativas e opções não te dá a coragem de dar o passo adiante.
Para voar, tem que se livrar do chão.
Mesmo que você saiba voar, o tombo não é o mesmo quando se sobrevoa o abismo.
Um tempão atrás eu escreví neste mesmo Blog que as lembranças são melhores muitas vezes que a realidade.
E termino este tópico com uma frase que não é minha mas vou adotar: Pare de sonhar com o passado e crie o seu novo presente.